27-11-2010
A armadilha da competição
Você não deve ser diferente de mim, e assim como eu deve ter escutado desde a mais tenra idade que, para se dar bem na vida, precisa competir e vencer. Somos induzidos desde muito cedo a acreditar que a competição é um caminho saudável e nos faz bem. Criaram a ilusão de que se deixarmos os outros para trás ou se agirmos com maior habilidade do que os outros, seremos os melhores, seremos exaltados e receberemos todas as recompensas do sucesso. Na vida adulta, não importa a classe social a que pertençamos nem o nível intelectual, raramente passamos um dia em que não nos vemos competindo com alguém, seja por um cargo recém criado, seja por um elogio, seja por uma medalha. Sentimos no fundo de nossa alma que temos que competir e vencer. Mais do que competir, sentimos a necessidade de vencer, pois o segundo lugar tem sempre sabor de derrota. Fomos tão intensamente domesticados para a crença na importância da competição e essa é tão exaltada como uma virtude a ser desenvolvida por todos nós, que acabamos acreditando que o ato de competir seja uma lei da natureza. A competição nos é apresentada de forma sutil nas constantes comparações com outras pessoas que aprendemos a fazer desde a infância com nossos irmãos e colegas. O problema é que a comparação produz o medo e o medo nos empurra para a competição, mecanismo psicológico inadequado para lidar com a insegurança e nos desenvolver como gente.
Por mais que esteja dentro de nós a crença nos benefícios da competição, nada mais enganoso e destrutivo, pois o verdadeiro desenvolvimento pessoal não se encontra no campo da disputa, mas sim nos princípios da iniciativa. Cada desafio que você aceitar e cada problema que tiver que resolver, irá requerer iniciativa pessoal e ela irá produzir autoconfiança sobre a qual você irá aos poucos estabelecendo seus padrões pessoais de identidade e ética no lidar com os outros e com as coisas. A iniciativa lhe traz aos poucos a independência pessoal, enquanto que a competição é a forma mais enganosa de ser controlado, pois permite que os outros estabeleçam seus objetivos, seus valores e suas recompensas. Sobre as armadilhas da competição, veja o que nos dizem Williard & Marguerite Beecher no clássico livro além do sucesso e do fracasso: “A competição escraviza e degrada a mente. É uma das formas mais preponderantes e certamente a mais destrutiva de dependência psicológica. Como conseqüência, se não for vencida, produz indivíduos estereotipados, apagados, medíocres, insensíveis, imitativos e desinteressantes, privados de iniciativa, imaginação, originalidade e espontaneidade. Eles estão mortos como seres humanos. A competição produz zumbis, nulidades”.
O grande erro do ato de competir é que desfoca do interesse coletivo para mirar no individual, ignorando que as qualidades humanas somente se desenvolvem de forma adequada na cooperação e a competição é corrente em sentido oposto, abortando e frustrando toda iniciativa individual. A competição destrói, a iniciativa cria. O sistema econômico no mundo atual apregoa os benefícios da competição. No entanto, cada vez mais vemos a destruição dos recursos naturais, o aumento da poluição, do estresse e de novas doenças, a exploração do homem pelo homem e a concentração de renda nas mãos de poucas pessoas, com uma grande maioria de miseráveis de todas as raças, idades e locais obrigados a se contentar com as migalhas. Os países ricos têm controlado o poder político e econômico, além das mentes e informações, num processo que mistura exploração com hipnose social. Alguns problemas imediatos de cunho individual podem ser resolvidos pela competição, mas a médio e longo prazo torna a vida pessoal e coletiva um inferno. O grande problema da competição é que ela é uma imitação barata da iniciativa, tornando quem a pratica uma pessoa vazia, dependente e controlada por circunstâncias alheias. Como dizem os autores acima citados, querer igualar competição com iniciativa é como confundir cogumelos venenosos com cogumelos comestíveis. Podem até ter aparências semelhantes, mas os efeitos são completamente distintos, pois uma é a morte da outra. A iniciativa é a qualidade natural de uma mente livre, enquanto que a prática da competição é a submissão voluntariamente aos grilhões da escravidão. Enquanto que a competição nasce da dependência, buscando imitar a iniciativa de forma enganosa, na renuncia de toda liberdade de pensamento para criar ou improvisar, a iniciativa resgata a dignidade de pensamento através do aumento da autoconfiança e capacidade de raciocínio criativo. Mentes livres são construídas pela iniciativa, enquanto que pessoas insensíveis e hipnotizadas por valores não humanitários são fruto do processo de competição. Seja criativo, tome iniciativa para a solução dos teus problemas. Isso vai desenvolver uma auto imagem positiva e sólida. As pessoas a tua volta, da mesma forma que a natureza irão te agradecer e retribuir.
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