24-10-2009
Brasileiro: profissão devedor
Cláudio Vital de L. Ferreira*
Existem muitas pessoas, principalmente algumas de origem religiosa católica, que têm uma relação tumultuada com o dinheiro. Esses pessoas têm dificuldades enormes em ganhar dinheiro, consideram que as pessoas ricas roubaram para adquirir seus bens. Invocam até a bíblia para justificar idéias condenatórias frente ao dinheiro. Justificam o próprio fracasso econômico afirmando que não devemos nos preocupar com os bens materiais. Dizem que estão felizes com o pouco que ganham e que não tem maiores aspirações econômicas. Zig Ziglar, grande conferencista na área de relações interpessoais e desenvolvimento pessoal, se pudesse dirigir uma pergunta a essas pessoas certamente perguntaria no que mais essas pessoas costumam mentir. A bíblia não condena o dinheiro, mas o apego ao dinheiro. Até o bom samaritano não poderia ter ajudado se não tivesse dinheiro. Pois saiba que o dinheiro é bom, é gostoso de se pegar e faz muito bem tê-lo no bolso e principalmente no banco.
Essas mesmas pessoas que condenam o dinheiro e os que o possuem levantam muito cedo, pegam uma condução e dependendo da cidade onde moram podem levar até 3 horas para chegar ao endereço do trabalho. Enfrentam um trânsito intenso, se estressam com o patrão e com a quantidade de trabalho para fazer todos os dias, almoçam mal, quase sempre sanduiches ou mesmo salgadinhos com refrigerante na rua. Saem do trabalho no final da tarde, quando não precisam ficar fazendo hora extra ou porque o patrão exige ou para poder ganhar alguns trocados a mais. Enfrenta mais três horas de trânsito e se tiver sorte este chegando em casa as nove da noite. Vive para o final de semana pois quando chega em casa quase sempre os filhos já estão dormindo e a esposa esta cochilando no sofá. Essas pessoas, ainda que não pensem, estão numa corrida desesperada, sacrificando a própria vida e a da família para ganhar um mísero salário. Em outras palavras, estão correndo atrás de dinheiro.
O problema é que a mídia incute diariamente na mente das pessoas o desejo de consumo e os ganhos que o mercado oferece não permitem a realização desses desejos. Poderíamos dizer que existem três tipo de pessoas, as que são pobres, a classe média e os ricos. Enquanto os ricos criam ativos que são bens que geram riquezas e vivem de parte dos rendimentos desses ativos e a outra parte investem, por isso ficam cada vez mais ricos, a classe média, desejosa de ser rica,e principalmente para parecer rica, compra carros caros, uma casa de campo e bens de consumo que são passivos pois não geram riqueza e sim despesas. Se endividam, são tensos e estressados mas vivem de aparências, pois valorizam sobremaneira a admiração social e a bajulação.Esses constroem castelos sobre a areia. Os pobres têm grande dificuldade em ganhar dinheiro por isso não conseguem criar ativos e para ter os bens passivos se endividam. O comércio se aproveita dessa realidade e prega na mídia a venda de uma geladeira em dez suaves prestações sem juros. Na verdade as prestações não são suaves e a afirmação de que são sem juros é totalmente mentirosa passível de uma ação da justiça.
O pobre pensa apenas no valor da prestação e se ela cabe dentro do seu orçamento. Se endivida e compromete boa parte da sua renda para adquirir bens de consumo que vão gerar outros gastos e torná-los ainda mais pobres. Fuja de prestações e de empréstimos como o diabo da cruz. Não deixe prestações vencerem e se tiver alguma dívida que não está tendo condições de honrar, procure seu credor, renegocie e coloque os valores mensais a ser pagos dentro dos limites do seu orçamento. Caso sua dívida se relacione com banco e você não está tendo mais condições de pagar as prestações e o banco não aceitar uma renegociação que lhe seja favorável, entre na justiça. Você tem todas as chances de ganhar uma causa como essa. Sonhe sempre, mas vida com os pés no chão. Nunca esqueça dessa ordem: primeiro SER, depois FAZER e por último TER.
*Psicólogo,Dr. em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado - Instit. de Psicologia-UFU. Pós doutorando em Saúde Mental pela Universidade do Porto em Portugal.Email: cvital@mailcity.com
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