05-06-2010
Uma certa revista e uma certa educação!
A revista “Veja”, através de dois de seus colunistas, publicou recentemente matérias relacionadas com educação. Cláudio de Moura intitulou sua coluna de Construtivismo e destrutivismo e Marcelo Bortoloti de Salto
no escuro. Interessante como acadêmicos e jornalistas amam citar teorias e teóricos para justificar seus pontos de vista e cada um se apega às próprias crenças e valores e tome Piajet e Vigotsky. Também sou acadêmico e com 59 anos não posso mais me ater apenas à pureza das pombas sem usar também a astúcia da serpente. Mais de trinta anos de vida acadêmica me colocaram em contato com muitas teorias e também aprendi que elas têm sentido quando funcionam na prática. Resolvi fazer um estágio de um ano convivendo e aprendendo com pais, alunos e professores de uma escola cujo sistema de ensino está dentro dos princípios que são criticados pelos dois articulistas de “Veja”, e que está num dos países classificados como “não desenvolvidos” em termos de educação. Aliás dessa convivência resultaram algumas reflexões que pretendo publicar em livro brevemente.
Já dizia um grande psicanalista e educador brasileiro que nossas crianças nascem com capacidade de criar pois têm o pensamento livre e autônomo, mas o sistema educacional, através dos anos, as “pinoquizam” em uma referência ao clássico de Carlo Lorenzini. O sistema de ensino festejado pelos articulistas, que dá uma vistosidade às estatísticas para que países sejam intitulados “desenvolvidos” em termos de educação, na pretensão de preparar seus filhos para o mercado de trabalho com uma profissão, ignora propositalmente valores indispensáveis para a convivência humana e outros “ valores” são incutidos, tudo em nome de um tal “desenvolvimento”. A sociedade em que vivemos e seus problemas são gerados pela educação que damos a nossos filhos. Cada vez mais prega-se as vantagens do “mercado competitivo” para justificar métodos desumanos e quase sempre desonestos para se “levar vantagem em tudo” dentro dos princípios da “Lei de Gerson”. Convivemos com degradação diária da natureza, crimes, poluição, exploração aberta através dos “empregos” que levam as pessoas a um estado de escravidão. E tome televisão, novelas, BBB e noticiários de roubalheira, estupros, abandono de bebês, acidentes e crimes para nivelar as mentes. Os tais países “com os melhores índices de educação” festejados pelos articulistas, chegaram a níveis assustadores de crimes à pessoa e à natureza. Vivemos cada vez mais sob o império do medo. Alimentamos-nos mal e o mundo está ficando obeso e doente e tome “fast Food” e medicamentos. Muitos de nossos filhos, quando não entram para o submundo de delitos e crimes, assumem na vida civil legalizada muitos dos princípios e valores próprios do submundo.
Deve ser dito em alto e bom som: o atual sistema sócio-político-econômico tem tratado à população como massa. Massa de manobra. Gado ao matadouro. Não quero isso para meus filhos e os filhos de todo ser humano em qualquer parte desse planeta e duvido que os articulistas querem filhos boçais repetindo feito papagaios o que outros pregam como bom para si. Todo o processo educacional tradicional, com a ajuda da televisão, faz um trabalho lento, silencioso e desumano, mas contínuo, de nivelamento das mentes para que nossas crianças muito cedo não consigam mais pensar com independência e questionar a ordem estabelecida de forma criminosa por grandes grupos políticos e econômicos. Nossas escolas tradicionais reproduzem as contradições existentes na sociedade, desenvolvendo todo um sistema de relação autoritária, excludente, competitiva e egocêntrica. Os teóricos das escolas tradicionais querem escravos para o mercado de trabalho e para tanto precisam que nossos filhos, desde pequenos, aprendam a renunciar à própria vontade, ao próprio pensamento, aos próprios sonhos, às próprias aspirações de valores e ao tipo de mundo que querem para si e se tornem apenas inocentes uteis.
Pois na escola em que estagiei, aprendi com os alunos que um outro mundo é possível, onde as pessoas se respeitam, respeitam a natureza, buscam o bem alheio antes do bem próprio. Aprendi com crianças e pré adolescentes que é possível um mundo de harmonia, de um real desenvolvimento onde essa palavra significa de fato uma vida melhor para todos e não apenas para alguns espertos que controlam o poder político, científico, econômico e social. Aprendi também que não somente é possível pensar de forma criativa e independente, mais que isso, é mister que assim o façamos se quisermos realmente transformar esse mundo para melhor e garantir um mínimo de decência ao futuro de nossos filhos. Aprendi também com os pais dessas crianças que é possível sobreviver nesse mundo preservando os valores humanos que permitem uma vida melhor a todas as pessoas e que podemos passar isso para nossos filhos. Sugiro à revista “veja” que envie seus dois articulistas a conviver alguns meses dentro da “escola da Ponte”. Estará dando um passo importante para que a educaçao de nossas crianças lhes garanta um mundo melhor e para que o tema seja tratado de forma menos leviana.
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