17-10-2009
Otimismo com realismo
Cláudio Vital de L. Ferreira* Ladislao Gati **
A maioria dos órgãos governamentais, em todos os níveis, municipais, estaduais e federais, não param de apresentar suas realizações e os progressos alcançados. De fato, nas áreas da tecnologia, ciências, informática e medicina aproximamo-nos dos países desenvolvidos e disso podemos nos orgulhar. Apesar das dificuldades financeiras, da burocracia que tudo emperra e a complicada tramitação da autenticação do progresso contra as quais o desenvolvimento deve lutar, nossa elite intelectual não desanima e, aos trancos e barrancos, por próprio eforço, amiúde sem nenhum apóio oficial, os resultados aparecem. Essa política de “substituição”, aliás, é uma das características dos governos brasileiros: incentivar a participação popular, o voluntarismo e a ação popular para realizar o que os órgãos oficiais, apresentando desculpas pouco aceitáveis, deixam de fazer. Assim a população arruma estradas, apavimenta as ruas, instala o sistema de saneamento, constrói poços artesianos, edifica casas populares, assegura a travessia das rodovias para os estudantes com guardas voluntarios Tudo isso parece interesante, no entanto o dinheiro público arrecadado com impostos salgados nem sempre sao utilizados para o bem público e sabemos que parte do que é arrecadado é desperdiçado em obras desnecessários ou pior ainda, em desvíos para os bolsos de alguns ladroes engravatados.. Há inúmeros processos contra o enriquecimento ilícito de centenas de políticos e muitos dos que sao acusados sequer sao procesados em funçao de acordos políticos de bastidores. Essas pessoas ridicularizam o “povo inocente” que acredita na propaganda alardeando a tal “governança participativa”, a qual nada mais é que o engodo dos que mandam e desmandam, a seu bel prazer, com o dinheiro do erário público, leia-se: com o dinheiro dos impostos pagos pela população honesta.
E aqui entra em cena o realismo. Os resultados científicos que enaltecem o nosso país só serão consolidados, ampliados e universalizados se houver um sistema de educação à altura. Não é suficiente termos ótimas universidades para a formação de nossos cientistas e técnicos, é preciso que haja uma educação doméstica e escolar visando o respeito mútuo, a honestidade, a ética, a sinceridade, a colaboração, a solidariedade e a responsabilidade, inclusive para com os deveres sociais. Nossas escolas preparam nossos filhos para o mercado competitivo, para o egoísmo, para o beneficio próprio em detrimento dos outros. Cada vez mais a famosa “Lei de Gérson” que é levar vantagem em tudo vigora na mente das pessoas como se a desonestidade fosse o caminho para o sucesso. Nosso grande problema nao é somente a falta de escolas, mas sim escolas de qualidade que preparem seus alunos com valores universais reconhecidos por todos os povos, e nao somente conhecimentos técnicos para serem mais uma peça na engrenagem do proceso produtivo. Como se isso nao bastasse, os estudos no nivel fundamental sao de péssima qualidade; os professores têm uma formação precária, além de mal-remunerados; os alunos terminam os seus cursos semi-analfabetos ou analfabetos funcionais, sem entender o que leram; não há a mínima preocupação para a educação moral e para a cidadania; a pobreza e a miséria tende a se agravar com a concentraçao da renda, não permitindo uma convivência pacífica e um lar onde se aprende a ser gente de bem. Resultado: ninguém é de ninguém, “cada um por si e Deus por todos” ou em outras palavras “o mundo é dos espertos!”
Nos orgulhamos com o aumento constante do nosso PIB, com a diminuição das taxas de Juros, o equilíbrio do câmbio e da nossa moeda, mas não nos empenhamos a formar cidadãos honestos, comprometidos com o bem coletivo e com a preservação da natureza. Estamos vivendo num mundo de fantasia, num otimismo sem fundamentos, não conseguimos vislumbrar, nem mesmo a médio e a longo prazo, uma real melhoria da situação em que nos encontramos atualmente se a base da educaçao nao for modificada. A tarefa é árdua, mas tem que ser enfrentada. Avante Brasil!
Psicólogo,Dr. em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado - Instit. de Psicologia-UFU. Pós doutorando em Saúde Mental pela Universidade do Porto em Portugal.Email: cvital@mailcity.com
* Teólogo, 81 anos, professor, ex- coordenador do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (Deutscher Entwicklungsdienst) e da Fase (Federação de Órgão para Assistência Social e Educacional) em Recife.
Autor do livro “confiteor, confesso, megvallom – Memórias de um homem comum”, 2004. gatihaj@gmail.com
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