03-07-2010
A função do pai
Sou pai de seis filhos. Os melhores ensinamentos que obtive em toda a minha vida, vieram deles. Em função da diferença de idade entre eles, sinto que pude ser um pouco melhor pai na medida em que iam nascendo, mas a sensação que fica é que sempre temos muito a aprender com cada filho que nasce e, se tivéssemos 100 deles, mesmo assim teria ficado para atrás a sensação de que ainda erramos muito.
Se pode conseguir muito de nossos filhos se estivermos dispostos a pagar o preço por isso. Esse preço é estar disposto a tratá-los como indivíduos, buscando dar-lhes liberdade dentro dos limites de um amor saudável. Esse grau de liberdade a que precisam ser expostos os colocam em contato com todos os tipos de enganos e falsos valores e esse é o preço desagradável que a liberdade exige e você precisa estar disposto a enfrentá-los com o mesmo amor de sempre. Com freqüência somos tentados a buscar criar nossos filhos a nossa imagem e semelhança e torná-los feito um biscoito. Para isso basta usarmos em vez do amor a ameaça, o medo e a pressão. Não importa a forma como vamos educar nossos filhos pois sempre iremos pagar um preço por isso que vai se relacionar não somente a eles, mas também a nós pais, pois um dia nossos filhos crescem e se separam de nós. Minha sábia mãe um dia, numa das visitas que fazia com freqüência à sua casa em Santa Catarina, quando meus filhos eram pequenos e estavam num canto de um quarto brincando e brigando me chamou, apontou o dedo indicador para eles e sussurrou ao meu onvido: “veja que lindos são seus filhos! Curta-os muito agora pois um dia você os perderá a todos e nunca mais terá a intensidade da presença deles como agora”. Aos poucos fui sentindo suas proféticas palavras se realizando com meus filhos à medida que foram crescendo. Quase todos estão espalhados pelo mundo, vários morando na Europa e uma filha no Rio de Janeiro.
O processo de crescimento exige que um dia nos afastemos de nossos pais e família. No entanto, a única maneira saudável de nos afastarmos deles é mantendo intactos o sentimento de amor e de família, com a certeza que nossos pais, por pior que tenham sido, deram o máximo que podiam por nós e que o que não nos deram não tinham como nos dar. O filho ou a filha que sair de casa com esses sentimentos, levará consigo as bases indispensáveis para enfrentar a vida, não necessitando mais da presença física dos pais e irmãos, ainda que seja útil e importante.
Observo meus filhos, desde a mais velha que já passa dos 30 anos até a mais nova que fará esse mês 6 anos. Por mais que tenha me esforçado, é triste ver que não consegui e não consigo atender a muitas das suas expectativas e necessidades. E a única coisa que podem fazer é ver que não foi maldade de minha parte, mas apenas incompetência. Sei que meus filhos mais velhos sofreram mais pois, quando consegui aprender algumas lições com a vida e crescer um pouco como gente e como pai, já era tarde demais. Como psicólogo, faço minhas as palavras do Lorde Rochester quando disse que “ antes de me casar eu tinha seis teorias acerca da educação dos filhos. Agora tenho seis filhos e nenhuma teoria”. Pior do que isso, às vezes, temo que vários erros que cometi com eles pela minha incompetência e descuido, possam cometer com meus netos como se meus erros fossem modelo a ser seguido para educá-los.
Tenho os mesmos sentimentos do Dr. Jess Lair, pois também sinto que ainda que tenha 59 anos, continuo a não ser bom em um monte de coisas muito importantes. Tenho dificuldades em ouvir meus filhos e quando o faço preciso controlar meu ego para respeitá-los na forma distinta de pensamento e assim poder aprender. Quase sempre, quando discordo da minha Gabriela de apenas seis anos, depois me dou conta que ela estava certa e eu errado. Tantas vezes ela me faz perceber que inverto a ordem de valores e me preocupo com tantas coisas e deixo passar momentos únicos somente possíveis serem vividos na plenitude da convivência com ela, embalados pelo seu sorriso e olhar. Tantas vezes queria ter ajuda mais meus filhos financeiramente e até hoje sinto na pele os limites econômicos aos quais me impus quando decidi me contentar em ser um professor universitário. Quando vejo meus filhos espalhados, alguns morando do outro lado do oceano, tenho a sensação de que estão expostos a vários perigos e os queria de volta bem pertinho de mim e me vem uma cena que quando criança eu via constantemente, a de uma galinha com seus pintinhos em volta em busca de comida. Essa, vigilante, antes dos pintinhos, se dava conta da aproximação de um gavião esfomeado e com um rápido piado de alerta conseguia, em fração de segundos, que todos estivessem sob suas asas protetoras, obrigando o gavião a voltar para seu lugar.
Comentários (1)
Comentários
Hanny
14-07-2010
Dr Claudio,ao ler seu relato falando sobre seus filhos me fez refletir em o qto preciso aproveitar mais os meus que os tive tao cedo e por precisar trabalhar nao pude ve-los crescer,hj tenho uma com 11 anos e que esta entrando na pré adolescencia e um de 4 anos que ja deixou de ser um bb,me fez pensar o qto preciso dar mais atençao a eles pois um dia pode ser tarde demais.Obrigada pelas palavras...
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