13-02-2010
Genodício calculado!
Cláudio Vital de L. Ferreira* Ladislao Gati **
Copenhague. Dezenas de chefes de Estado, seus assessores, ministros, cientistas, delegados de cada país. Centenas de pessoas, autoridades, secretários, funcionários, auxiliares. Viagens, hospedagem, alimentação. Custo: Milhões de euros. Resultado: nulo, ou pior, a decretação camuflada de um genocídio calculado. O tema: desenvolvimento versus sobrevivência. Uma tese falsa: pode haver desenvolvimento sem ameaçar a sobrevivência da humanidade.
A elevação da temperatura do Planeta, causada pela emissão de gases das indústrias, dos automóveis e da poluição em geral, predizem o desaparecimento de dezenas de ilhas, a invasão das águas do mar em milhares de cidades costeiras, a extinção de centenas de espécies de animais e plantas. O calor excessivo matará muitos idosos e crianças e aumentará substancialmente o consumo de água doce, já tão escassa em nosso habitat. Somando a tudo isso o aumento da população da Terra, as previsões são mais do que sombrias.
E nem estamos falando do futuro. As tempestades de neve no hemisfério norte, muito mais intensas que de costume, estão fazendo numerosas vítimas. As chuvas torrenciais causando inundações nas cidades e no campo do nosso hemisfério, havendo precipitações, em um só dia, correspondentes ao mês todo, que pouco tempo atrás não aconteciam. Os tufões e ciclones arrasando tudo que encontram pela frente, residências, escolas, hospitais, fábricas, depósitos e casas comerciais, os deslizamentos das encostas, causando mortes de centenas de pessoas e prejuízos financeiros incalculáveis, além de expulsar e deixar sem moradia centenas de famílias, estão aí para nos despertar à realidade.
Mas, a pressão das indústrias, do comércio, dos bancos, das financeiras e, em modo geral, de todos que atuam com valores monetários, sobre os chefes de estado, amedrontados pela quimera de uma nova e mais profunda recessão, impede a tomada de medidas salvadoras do ambiente natural.
O problema não é de hoje. Desde o advento do período chamado “modernidade”, no século XIX, quando os homens se entusiasmaram com a construção de máquinas (sempre mais poluentes) e, segundo o pensamento daquele tempo, produtoras de riquezas, nunca antes vistas, já então, sábios previdentes criticaram e condenaram o deslumbramento “modernista” e a falta de critérios e cuidados com o ambiente natural, que não iria trazer, como se julgava, a felicidade, e sim, grande perigo para a vida humana.
Entretanto, uma lenta, mas decisiva e progressiva diminuição da poluição do ar, da água e da terra, combinada com a invenção e aplicação de mecanismos (para que serve a inteligência dos cientistas?!) que, aos poucos, acabem com a degradação ambiental, em algumas décadas trariam resultados alvissareiros para as futuras gerações. Não podemos ser tão egoístas de pensarmos, apenas, no enriquecimento e no bem-estar a qualquer custo, preocupados com nosso umbigo, enquanto colocamos em risco o futuro de nossos filhos e de nosso planeta, tornando cada vez mais perigoso e arriscado viver.
Significaria o extermínio de nossos netos, bisnetos e, em geral, da nossa descendência. Nem tão pouco podemos ser tão embotados em não percebermos a bomba-relógio que estamos construindo com o envenenamento da nossa existência. As novas doenças que estão aparecendo e o agravamento das já existentes, os surtos e epidemias ceifando vidas humanas ou tornando as pessoas improdutivas, já estão sinalizando as terríveis conseqüências da nossa imprevidência. A deseducação tem nos levado a cada vez mais atos inconseqüentes, como se não vivêssemos em um universo interconectado, onde cada movimento de uma parte não afetasse o todo. O “alerta geral” está em nossas portas. Em Copenhague não entenderam, ou não quiseram entender, que as decisões de hoje serão determinantes para a sobrevivência do amanhã. O mundo está precisando mais do que simples líderes, preocupados com os interesses restritos de seus povos. Precisamos de estadistas.
* Psicólogo,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado
- Instit. de Psicologia-UFU-Email: cvital@mailcity.com Tel.034-9158-9012
** Teólogo, 81 anos, professor, ex- coordenador do Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social (Deutscher Entwicklungsdienst) e da Fase (Federação de Órgão para Assistência Social e Educacional) em Recife.
Autor do livro “confiteor, confesso, megvallom – Memórias de um homem comum”, 2004. gatihaj@gmail.com
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