17-07-2010
Competir?
Desde pequenos somos incentivados a competir. O processo começa dentro da própria casa onde competimos com nossos irmãos, depois na escola com os amiguinhos pela melhor nota ou a garota mais cobiçada e por último com os colegas no mercado de trabalho. Pode-se perceber que a competição tem sua origem na infância, mas não tem sentido manter esse procedimento após a adolescência sem bloquear o desenvolvimento pessoal. Em quase todas as nossas atividades, trazemos presente esse processo de desenvolvimento atrelado ao outro e não às nossas potencialidades e capacidades. Pois então que fique bem claro: quando nos permitimos usar o processo de competição estamos nos colocando sob o controle dos outros. E todas às vezes que condicionamos quer nossa felicidade, quer nosso desempenho afetivo ou profissional à circunstâncias externas, nos tornamos reféns delas e todos os nossos sonhos estão ameaçados.
Nos ensinam Willard & Marguerite Beecher que a iniciativa é a melhor maneira fugir do inferno cheio de tensão e sobressaltos da competição constante, pois ela é tudo o que a competição não é. A iniciativa leva o foco do desenvolvimento para parâmetros internos enquanto que a competição nos condiciona aos outros e dela nos tornamos reféns. Além disso, a iniciativa aumenta a autoconfiança porque você estabelece teus próprios padrões, ao passo que competir com os outros significa permitir que eles estabeleçam nossos objetivos, valores e recompensas. O grande tesouro da iniciativa é que ela possibilita a escolha do nosso próprio futuro e desenvolvimento, enquanto que a competição sempre irá colocar nossa vida nas mãos dos outros.
Nosso sistema econômico tem favorecido o processo de competição entre países e empresas, com grande repercussão nos indivíduos. Prega-se que o processo de competição favorece a qualidade e o desenvolvimento e barateia os custos, quando na verdade ela escraviza e degrada a mente e o homem. É a forma mais perniciosa e destrutiva de dependência psicológica, pois seu exercício aos poucos vai produzindo pessoas estereotipadas, apagadas, medíocres, insensíveis, reprodutoras do saber alheio e desinteressantes, faltando-lhes o senso de iniciativa, imaginação, originalidade e espontaneidade. Pessoas assim estão mortas como seres humanos. A verdade é que a competição, longe de gerar desenvolvimento e qualidade de vida, produz zumbis e nulidades, pois ela é germinada na dependência, imitando a iniciativa alheia de forma enganosa. Seu combustível vem de forças externas num processo de comparação e desejo constante de superar os outros, enquanto que na iniciativa a grande força vem de dentro para fora e a realização se dá na cooperação e não no egoísmo.
O grande problema da competição é que as qualidades humanas somente se desenvolvem de forma adequada na cooperação e a insistência nesse erro tem cobrado um alto preço em termos de desrespeito aos direitos humanos e ao desrespeito à natureza. O sistema sócio econômico em que vivemos difundiu de tal maneira o hábito da competição e ela tem sido tantas vezes exaltada como uma virtude a ser desenvolvida por todos, que muitas pessoas pensam ser uma lei da natureza humana e portanto universal. No entanto a iniciativa é a qualidade mais valiosa, pois os problemas humanos somente se resolvem quando a iniciativa está presente e não a competição. Não existe confiança pessoal sem iniciativa e ninguém consegue se desenvolver plenamente se não for emocional e fisicamente auto confiante. Assim, nada substitui a iniciativa pessoal na vida de um indivíduo se ele quiser de fato se desenvolver e dar sua parcela de contribuição para o desenvolvimento das pessoas a sua volta.
Não resta dúvida que competição e iniciativa são opostos e a presença de uma significa a morte da outra. As mentes livres são guiadas pela iniciativa e a dos alienados que apenas reproduzem o saber alheio e não conseguem mais pensar, são dominadas pela competição. Nosso sistema educacional tem estimulado a competição em detrimento da iniciativa e cooperação. Temos visto um aumento assustador da violência e desrespeito aos direitos humanos, com devastação da natureza e das riquezas de maneira desordenada, tudo isso em nome do desenvolvimento. Parafraseando as palavras de Madame Roland, proferidas antes de ser executada na guilhotina, poderíamos dizer: Desenvolvimento, desenvolvimento, quantos crimes se cometem em teu nome!
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