12-09-2009
Comunismo ou Capitalismo?
Ocorreram profundas transformações na sociedade principalmente no século passado, quer em termos de tecnologia, quer em termos de costumes e ainda não houve tempo suficiente para se entender e sentir todos os efeitos dessas mudanças. Mas tem ficado evidente o controle e a homogeneização do pensamento e das mentes. A autonomia tem cedido espaço para a geração de indivíduos massificados, cada vez mais parecidos com robot, funcionando a partir de programas e botões.
O que deveria ser interesse individual a serviço do interesse coletivo foi transformado em interesse dos povos a serviço de grandes grupos econômicos. Mas o ser humano não se presa para ser controlado, e quando se vê envolvido na renúncia da própria liberdade e autonomia de pensamento e ação, sente-se infeliz e frustrado, pois o desejo e essa semente de autonomia nunca morrem ainda que sejam massacrados na vivencia do dia a dia quer pelos meios de comunicação, quer pelas instituições de organização social.
Vivi a época da polarização entre o comunismo e o capitalismo. O auge do militarismo no Brasil foi quando mais vontade tive de ler Karl Max pois seu clássico livro “ O capital” estava proibido. Na época não entendia o motivo pelo qual os militares tinham tanta aversão ao comunismo que era descrito como algo vindo do diabo, aproveitando o gancho da religiosidade dos brasileiros. Conheci muitas pessoas que passaram a odiar o comunismo e quando inquiridas sobre o motivo de tanto sentimento negativo associado a essa palavra, ficavam perdidas e repetiam frases prontas que maciçamente haviam ouvido principalmente no rádio ou visto na televisão: “ é perigoso”; “ os comunistas matam as crianças! Destroem a família!”; “ “cuidado! Não se deve falar essa palavra!”; ” os comunistas são uma ameaça”. Tudo o que sabiam sobre o tal comunismo se resumia em frases semelhantes a essas e se fossem perguntado mais alguma coisa disfarçavam e caiam fora. Quando a velha Rússia se desintegrou e houve a queda do muro de Berlim essas pessoas tiveram um grande alívio e sentiram-se felizes. Até hoje não sabem porquê, mas durante o regime militar no Brasil, muitos brasileiros foram mortos por terem idéias que eram identificadas alinhadas com o comunismo e estou seguro que muitos dos matadores o fizeram sem sequer entender que tipo de ameaça essas pessoas significavam. Assim, matava-se e morria-se como conseqüência de crenças estabelecidas, ainda que totalmente irracionais.
Aos poucos muitos países que eram tratados como inimigos passaram e ser considerados amigos por se alinharam ao capitalismo, abandonando as idéias do comunismo, consideradas ultrapassadas e arcáicas. Para muitos, finalmente a vitória do bem sobre o “mal” e por algumas décadas essa organização político-social reinou quase absoluta. Veio a Globalização e a palavra “aldeia” começou a ser usada para mostrar que toda a terra era intercomunicada de tal forma que em instantes era possível levar a qualquer parte do planeta uma informação. Continuava a pregação em toda a mídia que agora sim os problemas da humanidade seriam resolvidos, pois o tal “comunismo” e seu “mal” já não existiam mais. À euforia pregada e festejada pela mídia aos poucos não atingia mais as mentes dos povos pois, os tais benefícios do capitalismo não vinham, enquanto que os problemas conseqüentes dessa organização social cada vez se intensificavam mais. Como ninguém consegue enganar a todos por muito tempo, as pilastras do capitalismo começaram a ruir e em poucos anos mais de um trilhão de dólares evaporou-se deixando muita gente na miséria, afetando milhares de empresas consideradas financeiramente sólidas. A maioria das pessoas em volta do mundo não tem tido acesso aos bens produzidos, pois a riqueza tem cada vez mais se concentrado e a pobreza e a fome tem afetado milhões de pessoas. Ainda que sejam conhecidos os progressos na ciência médica, milhões de crianças ainda morrem em quase todos os países do mundo vítimas de desidratação ou desnutrição. As pessoas trabalham cada vez mais para dar conta de pagar suas contas e vivem estressadas, cansadas, deprimidas, insatisfeitas e agressivas. Estamos em um processo de transformações cada vez mais profundas, com controle das mentes através da implantação do desejo e da homogeneização das idéias. Uns poucos pensam por todos e a massa é conduzida feito gado para o matadouro. Admirável mundo novo.
• Cláudio Vital de L. Ferreira: Psicólogo, Dr. em saúde mental, Psicanalista e escritor - Prof. Associado - Instit. de Psicologia-UFU . Pós-doutorando em Saúde Mental pela Universidade do Porto em Portugal.Email: cvital@mailcity.com
Comentários (1)
Comentários
Pedro Henrique Lemes
16-09-2009
Excelente seu texto Cláudio.
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