20-06-2009
É pecado ser pobre
A primeira vez que ouvi essa frase detestei quem falou pois eu havia estudado muito e era pobre. Mas como a pessoa que falou não tinha nem curso superior e tinha escalado degraus muito mais altos em termos de realização pessoal e financeira do que eu que tinha nível de pós-doutoramento e ainda por cima era mais novo que eu, me dei conta que ele poderia estar certo e resolvi parar para pensar, e hoje estou seguro que ele estava certo quando falou isso. Me dei conta que não havia simpatizado nem com ele nem com o que disse porque estava me mostrando uma dura realidade. Aceitar como verdadeira sua afirmação era admitir minha mediocridade. Para um homem na época com 55 anos e com toda a arrogância de um acadêmico, não me pareceu justo que um sujeitinho sem meus títulos pudesse ousar me falar aquilo. Acostumado que era a ser convidado a dar conferências em tantos congressos no Brasil e no exterior, com um currículo vistoso, me soava insano tal afirmação. Mas alguns banhos em água fria deixaram escapar alguma reflexão em minha mente e comecei a me perguntar porque eu o tão estudado era tão menos bem sucedido economicamente do que o tal sujeitinho. Uma frase que eu já havia escutado anteriormente me veio a mente e colocou combustível na fogueira de meu questionamento. Essa frase afirmava que devemos ouvir as pessoas que tem melhores resultados.O conferencista era eu mas quem ganhava dinheiro era ele. Aqui estou falando de resultados econômicos. Sem hipocrisia. Tanta gente tem uma relação tão doente com o dinheiro que nem se dão conta. Chegam a citar passagens bíblicas para justificar a pobreza. O que a bíblia condena é o apego ao dinheiro e não o fato de se ter dinheiro para se ter uma qualidade de vida melhor e poder ajudar as pessoas.
O primeiro grande problema que induz a pobreza é o sistema educacional tanto familiar quando escolar que nos condiciona para o mercado do trabalho. Crescemos pensando em estudar para ter um bom emprego e ganhar dinheiro para nos sustentar e a nossa família. Confesso que a vida inteira aprendi isso e até há pouco tempo acreditava nisso. Quando eu entrei na universidade creio que tinha 22 anos e decidi que iria trabalhar muito até os 45 anos para ganhar bastante dinheiro e então curtir a vida. Evidente que não tive sucesso, mas não foi porque não tenha trabalhado muito e sim porque me induziram a crer em papai noel e em duendes. Você leitor, puxe sua memória, seja honesto e me diga quantas pessoas você conhece que enriqueceram honestamente sendo empregadas? você pode lembrar de alguns que têm uma vida econômica razoável ou até boa, mas trabalham feito burro de carga, vivem estressados com sérios problemas de saúde e afetivos.
Quando você aceita ser empregado como sendo essa sua única opção para ganhar dinheiro, está sem se dar conta entregando sua vida nas mãos do patrão. Ele quem decidirá quanto você vai ganhar, o que vai fazer, o horário para entrar e para sair e quando vai tirar férias. E o dia em que ele acordar de mal humor e olhar para você e achar que você não gostou lhe colocará na rua sem lhe perguntar se tem prestações para pagar ou se a esposa esta grávida ou se tem comida em casa. Sua vida passa a ser controlada pelo patrão. Viu a enrascada que te induziram a se meter? isso é tão profundo na cultura capitalista de entregar o controle do próprio futuro nas mãos de um patrão, que muitas pessoas quando não conseguem um emprego ou o perdem, ficam parados em casa ou em frente a porta de casa dias a fio ou vao para um bar beber- fiado pois não têm dinheiro, como se fosse uma hora chover dinheiro do céu. Aparece alguém e lhes oferece uma oportunidade de trabalho para mudar suas vidas com ahcnes de ficar ricas que não seja emprego e elas dizem que não tem tempo.
Que na podem. Que estão esperando uma oportunidade que um amigo falou la da empresa onde ele trabalha. Essas pessoas não aprenderam a administrar seu próprio tempo, sua própria vida, nem o pouco dinheiro que um dia ganharam e não possuem disciplina pessoal. Tenho como amigos aqui em Portugal vários ex militares muito bem sucedidos como empreendedores e me dei conta que o traço em comum que todos tem é a disciplina. Quando se passa décadas de vida convencido que o trabalho assalariado é o único caminho e se descobre como eu o grande embuste que isso representa, apenas uma auto-superação e força de vontade contínuos podem permitir a mudança de velhos e falsos paradigmas por outros mais adaptativos para que se consiga a alforria.
* Psicólogo,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado - Instit. de Psicologia-UFU - Email: cvital@mailcity.com . Pós doutorando em Saúde Mental na Universidade do Porto em Portugal.
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