07-10-2009
Teu maior inimigo
Cláudio Vital de L. Ferreira*
Algumas pessoas desenvolvem relações interpessoais tão tumultuadas que conseguem ter inimigos. Outras não conseguem identificar em nomes, mas conservam sentimentos de raiva, revolta, preconceito e às vezes ódio por outras pessoas. Identificam sempre o mal em outras pessoas ou em circunstâncias fora de si mesmas, e aí cometem um dos maiores erros que irá criar grandes transtornos em suas vidas.
Não duvide, seu maior inimigo está dentro de você. Estou me referindo ao teu corpo. Sim esse conglomerado de órgãos e tecidos que constitui teu organismo. Não sei como você lida com teu corpo. Há pessoas que usam boa parte das horas de cada dia para o culto ao corpo, se dispondo a grandes sacrifícios para mantê-lo dentro de um padrão de beleza que, se alcançado, irá provocar a admiração dos outros. Vamos lidar aqui com dois conceitos por uma questão didática, ou seja, o corpo e a mente. Teu corpo é preguiçoso, vadio, acomodado e mentiroso. Foge de qualquer responsabilidade e exige sempre a sensação de bem estar ainda que de forma irresponsável. Quer sempre prazer e foge da dor como o diabo da cruz. É egoísta, querendo tudo para si mesmo, parecendo uma criancinha rebelde que ganha muitas coisas mas está sempre insatisfeita e exigindo cada vez mais de forma quase ininterrupta.
Tua grande sorte é que teu corpo não tem autonomia e depende de tua mente e vontade para agir. Isso te dá uma vantagem, pois ainda que teu corpo queira a comodidade e inanição, tua mente tem o controle sobre ele e executará o que ela determinar. Mas teu corpo não se dá por vencido e desenvolve artimanhas para convencer tua mente de que todos os teus desejos e vontades são legítimos e precisam ser satisfeitos. Vejamos um exemplo: há alguns meses atrás eu fazia um trabalho de rua na saída de um movimentado edifício na cidade do Porto em Portugal e havia um rapaz simpático, porém simplório, com a metade dos dentes da boca, que vendia revistas e trabalhava em frente ao edifício todos os dias bem próximo de mim, a ponto que fizemos amizade. Seu principal assunto que compartilhava comigo era se queixar da vida, do governo e dizer que tinha família, filhos, mas que a vida era muito difícil e que o que ganhava não era suficiente para dar um mínimo de conforto para eles, às vezes sequer uma alimentação saudável. Enquanto discorria sobre assuntos tão importantes da sua vida, com a maior naturalidade apanhava um maço de cigarros do bolso, sacava um cigarro e fumava dando profundas tragadas, soltando tanta fumaça como se fosse um daqueles trens Maria fumaça.
Fiquei imaginando a inteligência do seu corpo para criar um argumento lógico e suficientemente sólido para convencer a mente a permiti-lo a cada meia hora queimar dinheiro com prejuízo à saúde se queixando de falta de dinheiro. Cheguei a imaginar o diálogo interno desse sujeito falando consigo mesmo:
-Corpo: quero fumar um cigarro, pois estou com vontade.
-Mente: não tenho dinheiro suficiente e isso faz mal.
-Corpo: Puxa não fale assim, estamos trabalhando, você está ganhando dinheiro.
-Mente: não! Não vou permitir. Minha família precisa desse dinheiro que é pouco.
-Corpo: Você vive trabalhando, se esforçando, tem feito tudo por tua família. Você não faz nada por ti mesmo, não aproveita a vida. O que tua família faz por ti? Vamos la, não seja rígido, você merece.
-Mente: Está bom, mas somente um.
Imediatamente as mãos se dirigem ao bolso e pegam o maço de cigarros. O corpo mente para a mente e essa se alia ao corpo e acredita na mentira e a farsa dura uma meia hora até o corpo querer fumar mais um cigarro e novo dialogo mentiroso se trava e, caso a mente não seja disciplinada, mais uma vez cairá no canto da sereia e no final do dia um maço de cigarros terá sido fumado.
Fortalece tua mente com disciplina e jamais acredite nas mentiras que teu corpo te apresenta como verdades incontestáveis. A Satisfação dos desejos do corpo é uma ratoeira de efeito retardado que acabará esmagando tua mente e ao próprio corpo. Sê vigilante, domina teu corpo. Desenvolve tua mente e exige que os interesses dela sejam preservados. Somente assim você terá uma chance de sonhar e realizar sonhos, e teus filhos terão orgulho de ti.
• Psicólogo,Dr. em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado - Instit. de Psicologia-UFU. Pós doutorando em Saúde Mental pela Universidade do Porto em Portugal.Email: cvital@mailcity.com
Comentários (1)
Comentários
ionilda paulino ramos
09-10-2009
concordo plenamente com você, as vezes temos que controlar a nossa mente, ou melhor educa-la se não nós cometemos erros terriveis,que depois arrependemos.obrigada pela orientação.
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