DAI PAO A QUEM TEM FOME

03-04-2010


Dai pão a quem tem fome


Aconteceu na cidade de Joinville na minha bela e Santa Catarina. Houve um concurso de redação na rede municipal de ensino. O título recomendado pela professora foi: `Dai pão a quem tem fome`.O primeiro lugar foi conquistado por uma jovem de 14 anos de idade. E ela se inspirou exatamente na letra de nosso Hino Nacional para redigir um texto, que em sua opinião, demonstra o que os brasileiros verde-amarelos precisam perceber no verdadeiro sentido de patriotismo. Tenho uma filha que esse ano fará também 14 anos e estuda na rede pública de ensino. Toda criança quer um mundo onde caibam seus sonhos, onde possam viver em harmonia com seus pais, com os amigos e com a natureza. As crianças são sábias. Nascem com a capacidade de pensar e preservar a vida que lhes foi dado de presente, mas, como diz o grande educador Rubem Alves, o passar dos anos nas escolas as “pinoquiza”, numa referência a Pinóquio. Diríamos que a televisão, muleta tão utilizada pelos pais para deixar seus filhos sem atenção e poderem fazer outras atividades, completa a tarefa de maneira covarde e criminosa, através de programas e comerciais onde técnicas da psicologia moderna são utilizadas. São tantas as barbaridades na TV que o melhor seria não tê-la em casa. Seria difícil enumerar tanto acinte à inteligência e ao respeito passado nos programas, mas tomemos apenas o exemplo de um locutor, que se acha educador do povo brasileiro, e que num programa qualifica de “heróis” gente baixa e frívola, capaz de qualquer coisa para ganhar dinheiro. Infeliz de um povo que tenha por herói pessoas assim. Nossos filhos têm sido tratados como manada ao matadouro para que se enquadrem no binômio produção e consumo, fruto de uma mente imbecilizada através dos anos. Nossos filhos merecem muito mais do que isso. O Brasil merece a utilização melhor de uma concessão pública como a televisão, para que o interesse do povo brasileiro seja preservado, sem espaço para a mesquinhez e mediocridade de alguns poderosos que se acham acima de tudo e de todos.
O que vai a seguir, é a transcrição literal da redação que escreveu a aluna de 14 anos para o título proposto de “ dai pão a quem tem fome”. Não sabemos seu nome, nem sua identidade, tornamos público como uma homenagem a nossas crianças do Brasil inteiro.

"Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi, o nosso Brasil chorar:
O que houve, meu Brasil brasileiro?
Perguntei-lhe!
E ele, espreguiçando- se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo. Vejam o que estão fazendo comigo...
Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores.
Meu povo era heróico e os seus brados retumbantes. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante.
Onde anda a liberdade, onde está o braço forte?
Eu era a Pátria amada, idolatrada. Havia paz no futuro e glórias no passado. Nenhum filho meu fugia à luta. Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo era a mãe gentil.
Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que às margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula.
Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim.
Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso país ostenta estrelado. Pensei... Conseguiremos salvar esse país sem braços fortes? Pensei mais... Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz?
Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso e mudo, como uma criança dormindo em seu berço esplêndido."