Cláudio Vital de L. Ferreira*
Ontem a noite fui fazer uma visita ao pai de uma amiga, a seu pedido. Ele tem 56 anos e está com a saúde muito abalada. Tem diabetes, insuficiência renal, problema cardíaco e já passou por duas cirurgias. Encontrei um homem abatido, sentado em uma cadeira, com fisionomia preocupada com poucas perspectivas. Ao lhe perguntar qual eram suas expectativas para o futuro, disse que dado seu estado, acreditava poder viver no máximo mais um ano. Na anamnese relatou hábitos pouco saudáveis, principalmente em termos de alimentação, mas completou: “ Estou disposto a mudar o que for preciso para ter saúde de novo”.
O sofrimento é talvez a forma mais eficiente deixada pelo Criador para proporcionar mudanças em áreas onde parece impossível ou muito difícil ao ser humano mudar. Esse mesmo homem é um alcoólatra, mas desde que desenvolveu uma cirrose hepática parou de ingerir bebida alcoólica apenas com o uso da vontade. Claro que o sofrimento nunca é bem vindo, mas sem ele o ser humano teria crescido pouco além dos animais e todo o tempo da sua história o teria levado a poucas mudanças não fosse sua ação milagrosa. Napoleon Hill considera que o sofrimento é um dos meios mais efetivos através do qual a natureza condiciona os seres humanos para que se tornem humildes e cooperativos nas relações humanas. Sem a influência produtiva do sofrimento, o ser humano estaria ainda no mesmo nível dos animais, pois é ele que rompe as barreiras entre o homem físico e instintivo e suas potencialidades espirituais. Quanto menos dor, mais nos identificamos com os valores e crenças mundanas. Quanto mais dor, maior a proximidade da espiritualidade e de Deus. Além disso, o sofrimento quebra velhos hábitos viciados e os substitui por novos e melhores. Isso sugere que o sofrimento é um artifício da natureza através do qual ela impede que o homem se mantenha escravizado pela complacência e auto-satisfação.
Sem o sofrimento não há evolução. Ele força o homem a fazer uma análise introspectiva através da qual descobre a cura para todos os seus males e decepções. Com muita freqüência o homem descobre os poderes estupendos que tem, apenas depois de passar por experiências de desilusão no amor, fracassos nos negócios ou doenças e tragédias fora de seu controle. Esses episódios provocam tanta dor que conseguem derrubar as cortinas das falsas crenças mentais das limitações auto impostas provocadas pelo magnetismo animal, fazendo a ponte entre as impossibilidades humanas e o poder infinito do Universo que é Deus. Prova disso são as curas milagrosas e as transformações incríveis em algumas pessoas que jamais aconteceriam se não fosse o milagre do sofrimento.
O desenvolvimento pessoal que tira o homem do meramente instintivo e animal e o transforma em um ser superior, somente é possível através do sofrimento. O melhor antídoto para a arrogância, a prepotência, o egoísmo, a vaidade e o narcisismo é o sofrimento. É o denominador comum universal que serve para apaziguar a bestialidade humana, trazendo a paz e a harmonia. Ele nos conduz à realidade humana e nos mostra quem de fato somos, independente da classe social a que pertençamos ou aos bens que possuímos. Em momentos de sofrimento as pessoas tiram a máscara e se revelam como realmente são, pois o sofrimento é a hora da confissão aberta tanto para os humildes como para os orgulhosos. Sem a emoção do sofrimento o homem seria um animal tão feroz quanto o mais selvagem tigre, porém muito mais perigoso por causa de sua inteligência superior. A dor é o melhor domador da natureza humana. O Criador impôs a dor e o sofrimento ao ser humano para garantir a moderação no uso de sua superioridade. Os sádicos e criminosos são geralmente indivíduos de grande inteligência sem a capacidade para o sofrimento. No entanto, nos alerta Hill que, da mesma forma que o fracasso, o sofrimento pode ser uma bênção ou uma maldição, dependendo da reação suscitada. Se for entendido como uma força poderosa capaz de nos disciplinar e alterar o curso de nossa vida sem ressentimento, pode se transformar em uma grande bênção. Se for ressentido, se nenhuma semente boa for percebida como nascida dele, se não formos capazes de tirar as lições e benefícios que nele estão escondidos, se não formos capazes de perceber e cultivar a semente de um bem igual ou maior, então terá se transformado em uma maldição. A escolha é individual. Somente a atitude explica o resultado tão diferente em pessoas que passaram por intensa dor ou fracasso. O sofrimento de Abraham Lincoln pela perda de Ann Rutledge, única mulher que amor verdadeiramente o transformou em um dos maiores lideres que os EUA já conheceram. O sofrimento, a pobreza e o fracasso que acompanharam Napoleon Hill até seus cinqüenta anos, fundiram na brasa ardente sua personalidade, limpando todas as impurezas e o transformando em um grande homem benfeitor da humanidade. Conheço diversas pessoas que foram beneficiadas pela dor e o fracasso, além de mim. Cito um grande amigo antes conhecido como “ tolerância zero” por sua arrogância, que precisou passar pelo fracasso como vendedor de madeiras, com dívidas de mais de trezentos mil reais, para se transformar em um homem afável, educado e bem sucedido profissionalmente, ajudando milhares de pessoas a mudar suas vidas através da saúde física e financeira.
Se você for sábio, vai aprender a avaliar corretamente o sofrimento e será grato a Deus por ele ao perceber a semente de um benefício muito maior que a dor sofrida, com potencial de realmente te fazer gente. Você reconhecerá seus benefícios sempre que eles aparecerem e entenderá que o sofrimento é um dos mecanismos básicos da natureza pelo qual ela separa o homem de seu passado animal criando a ponte entre seu subconsciente e o Universo que é a Mente Infinita-Deus, de onde emanam poder e riquezas inesgotáveis.
* Psicólogo,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Aposentado
- Instit. de Psicologia-UFU-Email: cvital@mailcity.com Tel.034-9158-9012
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