viernes, 22 de abril de 2011

A FORÇA DE UM OLHAR

9 de abril de 2011



Cláudio Vital Psicólogo


Como sabemos, a visão é um dos cinco sentidos. Provavelmente o mais importante de todos. Tantos atos conseguimos praticar e tantas informações temos acesso apenas através da visão. Interessante, no entanto, que nem sempre estamos preparados para ver aquilo que nos está sendo mostrado e se tornou disponível ao raio da visão. Sempre temos que estar preparados para poder enxergar. Não basta ter olhos sadios, pois, para ver na profundidade que os olhos são capazes de mostrar, você precisa aprender a ver através dos olhos da alma. A maioria das pessoas apenas consegue ver o óbvio. Uns poucos conseguem ver muito mais. É o chamado “Poder da Visão”. A maioria das pessoas renuncia a esse poder quando age em função das aparências. Os sonhadores agem não em função daquilo que seus olhos físicos lhes mostram, mas por aquilo que os olhos da alma lhes mostram, pois pela fé pegaram emprestados os olhos de Deus.

Quando estamos preparados, conseguimos captar a intensidade de informações, sentimentos e desejos que apenas o olhar é capaz de transmitir. Veja, por exemplo, um casal de apaixonados. Quanto mais aumenta a paixão entre ambos, menos usam as palavras, substituindo-as pelo olhar para comunicar o que vai dentro do coração. Assim são capazes de ficar muito tempo em mútua contemplação através dos olhares. Conseguiram entender que jamais as palavras expressam os sentimentos com a fidelidade alcançada pelo olhar. As mães e seus filhos conseguem transmitir e captar sentimentos muito intensos através do olhar. Crianças, às vezes apavoradas diante de uma determinada situação, conseguem em poucos segundos se acalmar após cruzar seu olhar com o da mãe. Talvez essa seja uma das formas de comunicação mais intensa entre mãe e filho, tão bem desenvolvida no primeiro ano de vida quando a criança ainda não consegue se comunicar pela palavra. Lembro-me de alguns episódios de minha infância quando era intensa a comunicação entre minha mãe e eu através do olhar. Na região onde nasci e vivi minha infância, no sul de Santa Catarina, num vilarejo com muitos imigrantes de origem italiana, sempre que se recebia uma visita, era costume servir-lhe algo. Se fosse horário de refeição se convidava insistentemente para que sentasse junto a mesa para comer. Se não fosse horário de refeição, os donos da casa preparavam um “café com mistura”, onde,além de servir café com leite tirado de uma vaquinha que podia ser vista no pasto ao lado da casa, também preparavam diversos quitutes deliciosos que eram preparados na hora. Assim, quando sentávamos em torno da mesa, víamos aquela abundância de alimentos de dar água na boca. Eu devia ter algo como cinco ou seis anos. Como sou o filho mais novo de doze, minha mãe sempre me levava com ela como companhia, e dizia que eu era sua mascote. Quando nos sentávamos e eu acabava de comer algumas guloseimas que minha mãe colocava próximo à minha xícara, a dona da casa mandava eu me servir mais. A primeira coisa que eu fazia não era me servir, mas olhar para minha mãe. Por seu olhar eu sabia se devia aceitar ou não, pois ela ficava atenta à quantidade de comida e as pessoas que estavam à mesa para comer. Se visse que iria sobrar comida, seu olhar me dizia ”aceite” e eu me deliciava de novo. Do contrário, seu olhar dizia “ não aceite”, e eu entendia claramente a mensagem dizendo à anfitriã” não, muito obrigado”, até porque, se não o fizesse, posteriormente, ao caminho para casa, levaria bronca.

Os olhares comunicam muito mais do que as palavras e essa comunicação pode ser transformadora. Veja esse episódio: “Prenderam a Jesus então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes. Pedro seguia-o de longe. Acenderam um fogo no meio do pátio, e sentaram-se em redor. Pedro veio sentar-se com eles. Uma criada percebeu-o sentado junto ao fogo, encarou-o de perto e disse: Também este homem estava com ele. Mas ele negou-o: Mulher, não o conheço. Pouco depois, viu-o outro e disse-lhe: Também tu és um deles. Pedro respondeu: Não, eu não o sou. Passada quase uma hora, afirmava um outro: Certamente também este homem estava com ele, pois também é galileu. Mas Pedro disse: Meu amigo, não sei o que queres dizer. E no mesmo instante, quando ainda falava, cantou o galo. Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor: Hoje, antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes.Saiu dali e chorou amargamente”(Lucas,22:54-62). . Imagine você o que aconteceu exatamente naquela fração de segundo quando o olhar de Jesus se cruzou com o de Pedro. Certamente, após três vezes o ter negado, foi esse olhar de Jesus que provocou a conversão de Pedro e o transformou completamente, mudando desde então a vida de milhões de pessoa pelo mundo.

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