sábado, 28 de mayo de 2011

EPIDEMIA DE DIAGNÓSTICOS

Cláudio Vital Psicólogo

Zig Zigler, grande comunicador motivacional, relata em um de seus livros que em uma determinada tribo indígena que vivia isolada, não foi encontrado um único índio gago. Também no histórico de saúde dos índios, não havia relato de um caso sequer de gagueira desde seus antepassados. No idioma da tribo não existia a palavra gagueira. Completa o autor com a seguinte afirmação:” ora, se não havia a palavra gagueira no idioma, como poderia haver gagos?”. Evidente que é uma provocação do autor, mas o relato favorece a compreensão das idéias que virão abaixo.
A classificação das doenças(CID) feita pela OMS( organização mundial de saúde) já passou por dez revisões. A Classificação feita pela Associação médica Americana já passou por cinco revisões. Em todas elas aparecem novas doenças e as formas de identificá-las e tratá-las. Os cientistas americanos, com formação médica, Gilbert Welch, Lisa Schawartz e Steven Woloshin, publicaram em dois de janeiro de 2007 no jornal The New York Times artigo onde afirmam que “ o que está nos fazendo ficar doentes é uma “Epidemia de diagnósticos”. Vejamos abaixo suas idéias:
“Você pode pensar que isso é porque os médicos cometem erros. Sim, cometemos erros! Mas você não poderá ser vítima de erro médico se não estiver no Sistema. A maior ameaça colocada pela Medicina Americana é que, cada vez mais, nós estamos sendo arrastados para dentro de um sistema não por causa de uma epidemia de doenças, mas por causa de uma epidemia de diagnósticos.Os americanos estão vivendo cada vez mais, muito embora nos digam que estamos doentes.
Como pode ser isso? Uma razão é que destinamos mais recursos para cuidados médicos do que qualquer outro país. Alguns desses investimentos são produtivos, curando doenças e aliviando o sofrimento. Mas também nos conduzem a mais diagnósticos, uma tendência que se tornou uma epidemia.
Essa epidemia é uma ameaça a sua saúde! E isso tem duas fontes distintas. Uma é a “medicalização” do dia a dia. Muitos de nós experimentamos sensações físicas ou emocionais que não gostamos, mas que no passado, eram consideradas parte da vida. Contudo, cada vez mais, tais sensações têm sido consideradas sintomas de doenças. Experiências do dia a dia como insônia, tristeza, contrações nas pernas e diminuição do prazer sexual agora são diagnosticados como: doenças do sono, depressão, síndrome de pernas contraídas e disfunções sexuais.
Talvez o que mais nos preocupa seja a “medicalização” em crianças. Se elas tossem depois de exercitarem-se, têm asma; se têm problema de leitura, são disléxicas; se estão infelizes, estão com depressão; se alternam entre a tristeza e a alegria, são bipolares. Conquanto esses diagnósticos possam beneficiar umas poucas com sintomas severos, poderíamos ser levados a pensar sobre o efeito nas muitas outras crianças cujos sintomas ainda se apresentam brandos, intermitentes ou passageiros.A outra fonte é o impulso de descobrir doenças antes de se manifestarem. Diagnósticos antes reservados para graves enfermidades, agora diagnosticam doenças em pessoas que não apresentam qualquer sintoma, aquelas chamadas predispostas ou “grupos de risco”.
Dois desdobramentos aceleram esse processo. Primeiro, as tecnologias avançadas permitem aos médicos procurar minuciosamente coisas que possam estar erradas. Podemos rastrear moléculas no sangue. Podemos direcionar aparelhos de fibra-ótica em cada orifício do corpo humano. Exames médicos de última geração tais como: ressonâncias magnéticas, ultrasons, etc permitem aos médicos definirem defeitos estruturais sutis bem profundos no corpo humano. Essas tecnologias tornam possível sugerir diagnósticos para praticamente todas as pessoas: artrite em pessoas sem dores nas juntas, problemas estomacais em pessoas que não apresentam azia, e câncer de próstata em mais de um milhão de pessoas que, se não fosse pelo teste, viveriam tanto quanto pessoas que não são pacientes com câncer.
Segundo, as regras estão mudando. Painéis de especialistas da área médica expandem constantemente o conceito do que constitue uma “doença”. Critérios que diagnosticavam diabetes, hipertensão, osteoporose e obesidade caíram todos nos últimos anos. O critério para colesterol normal tem caído inúmeras vezes. Com essas mudanças, doenças podem ser diagnosticadas em mais da metade da população!
Muitos de nós assumimos que todos esses diagnósticos adicionais podem até serem benéficos. E alguns o são. Mas num extremo, a lógica da detecção prematura é absurda. Se mais da metade da população está doente, o que significa ser normal? Muitos de nós abriga essa predisposição muito embora nunca ficaríamos doentes, mas estaríamos no “grupo de risco”. Não menos problemática é a “medicalização” da vida diária. O que estamos exatamente fazendo às nossas crianças quando 40% delas têm uma ou mais prescrições crônicas de remédios nas colônias de férias?.
Ninguém deveria aceitar esse processo de tornarem pessoas sadias em pacientes de maneira lenta. Haveria uma séria desvantagem. Rotular as pessoas como doentes pode fazê-las sentir ansiosas e vulneráveis – particularmente as crianças.Mas o problema real com essa “epidemia de diagnósticos” é que ela nos remete a uma “epidemia de tratamentos”. Nem todos os tratamentos proporcionam benefícios significativos, mas quase todos podem causar danos. Algumas vezes os danos são conhecidos, mas freqüentemente danos causados por novas terapias levam anos para surgirem – após muitos já terem sidos expostos. Para os doentes graves, esses danos são ofuscados em relação ao potencial do benefício. Mas para aqueles que experimentam sintomas leves ou moderados, os danos se tornam mais relevantes. E para os muitos rotulados como predispostos ou do “grupo de risco”, mas destinados a permanecerem saudáveis, o tratamento só pode causar dano.
A epidemia de diagnósticos possui várias causas. Mais diagnósticos significam mais dinheiro para os fabricantes farmacêuticos, hospitais, médicos e grupos de defesa da doença. Pesquisadores e até mesmo o Instituto Nacional da Saúde, uma organização baseada na doença, asseguram sua permanência e financiam, promovendo a detecção de “suas” doenças. Questões médico-legais também impulsionam essa epidemia. Embora o fracasso em se chegar a um diagnóstico correto possa resultar em ações judiciais, não há penalidades correspondentes para diagnósticos exagerados. Portanto, o caminho de menor resistência para os clínicos é diagnosticar livremente, mesmo não sabendo se ao fazê-lo, estariam realmente ajudando seus pacientes.Cada vez mais, nós estamos sendo alertados de que estamos doentes, e pouco, de que estamos bem. As pessoas precisam pensar muito sobre os benefícios e riscos do aumento de diagnósticos: a questão fundamental que enfrentam é se se tornam ou não pacientes. E os médicos precisam lembrar o valor de assegurarem às pessoas de que não estão doentes. Talvez devêssemos começar a monitorar uma nova referência de saúde: a proporção da população que não requer cuidados médicos. E os Institutos Nacionais de Saúde poderiam propor uma nova meta para os pesquisadores da área médica: reduzir a necessidade de serviços médicos ao invés de aumentá-la”.
FONTE:
http://www.nytimes.com/2007/01/02/health/02essa.html?_r=2&scp=1&sq=What%C2%B4s%20making%20us%20is%20an%20epidemic%20of%20diagnoses&st=cse%29.

* Psicólogo,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado

- Instit. de Psicologia-UFU-Email: cvital@mailcity.com Tel.034-9158-9012


www.drclaudioferreiracoach.com

1 comentario:

  1. Dr. Máximo Figueira31 de diciembre de 2014, 18:57

    Dr. Claudio, você caiu ingenuamente no mito da tribo de índios que não tinha gagos: Como nasceu o mito da tribo de índios que não tinha gagos?

    ResponderEliminar